“Para matar Orfeu não basta a Morte.
Tudo morre que nasce e que viveu só não morre no mundo a voz de Orfeu”.
Além da distância, há
muito que separa a Grécia do Rio de Janeiro. Porém, para Vinícius, esta
disparidade ficou minúscula ao comparar a favela do samba e dos clubes de
negros do Rio com a mitologia grega. Dessa junção, nasceu um negro com violão
nas mãos e que a cada samba dedilhado às mulheres do morro encantava.
Foi em 1942, como um dia
escreveu o autor, que nasceu o embrião de Orfeu da Conceição. Do contato de
Vinícius de Moraes com as favelas, macumbas e candomblés que nasceu esta
tragédia carioca que mostra de maneira célebre e dramática o sofrimento do amor
entre Orfeu (Haroldo Costa) e Eurídice (Daisy Paiva). Desde então Orfeu não foi
mais o poeta e músico de Trácia, pelas mãos do “poetinha” virou o Orfeu negro,
a voz do morro.
O texto virou peça de
teatro e em 1956 estreou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Fruto das
parcerias perfeitas de Vinícius a peça foi um enorme sucesso. Não poderia ser
diferente, com música de Tom Jobim, cenário de Oscar Niemeyer e figurinos de
Lila Bôscoli o sucesso foi garantido.
Além do livro, da peça e do
disco, em 1959, fruto de uma produção franco-italiana dirigida por Marcel Camus,
a obra virou filme com o título de Orfeu Negro. Apesar de o resultado não ter
agradado a Vinícius, o filme ganhou os principais prêmios de Cannes (a Palma de
Ouro de 1959), além do prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar e no Globo
de Ouro de 1960.
Esse drama passional tem
como palco trágico o que de melhor o Rio oferece ao mundo: o carnaval. É em
meio à batucada das escolas de samba que ocorrem os inesquecíveis encontros e
desencontros entre Orfeu e Eurídice. A transposição do mito grego para o morro
é, de fato, uma homenagem ao negro brasileiro, nas palavras de Vinícius:
“O negro possui uma
cultura própria e um temperamento suis generis, e embora integrado no complexo
racial brasileiro sempre manifestou a necessidade de seguir a trilha de sua
própria cultura, prestando assim uma contribuição verdadeiramente pessoal à cultura
brasileira em geral: aquela liberta dos preconceitos de cor, credo ou classe”.
Não é meu objetivo
contar-lhes detalhes da obra para que não tire o gosto de sua leitura. Portanto,
passe em alguma biblioteca ou acesse algum sebo e adquira o livro, você não irá
se arrepender. Um clássico feito com amor, palavra chave para quem conhece o
autor.
Visite o acervo do poeta: Obra completa.
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