No continente americano é possível encontrar inúmeras organizações
criminosas que atuam nas mais variadas atividades no mundo do crime organizado.
Dentre essas organizações, as maras –
violentas gangues de rua – atemorizam a população da América Central e
enfrentam as forças governamentais que tentam suprimir a epidemia desses
grupos.
Apesar do debate, atual e polêmico, o fenômeno destas gangues de rua remonta
o século passado. Conforme Thomas Bruneau et.
al apresenta em seu livro “Maras Gang Violence and Security in Central
America” suas origens se deram há cerca de cem anos encabeçadas por
mafiosos mexicanos nas prisões do sul da Califórnia. No entanto, uma série de
eventos ocorridos durante as últimas décadas do século passado podem ajudar a
compreender de que maneira as maras
fizeram da América Central o reduto de suas atividades.
O Primeiro deles é a guerra civil. Desde 1960 até o final da guerra fria,
países como El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua travaram conflitos
armados contra governos autocráticos e ditatoriais que apoiavam (ou não)
determinados interesses geopolíticos norte americanos na região. Este quadro de
instabilidade regional resultou em uma diáspora de imigrantes latinos para os
Estados Unidos. Foram nas décadas de 1970-80 que uma grande leva de imigrantes
latinos chegou ao vizinho do norte. Porém, a recepção foi um passo para a
epidemia das gangues de rua.
A chagada à Califórnia não foi nada receptiva. Os novos imigrantes se
depararam com bairros de latinos dominados pela máfia mexicana os quais se
consideravam culturalmente distintos. Contrários em submeterem-se as ordens das
gangues de rua mexicanas, os latinos resolveram criar suas próprias gangues e
esse movimento pode ser considerado o boom
desses grupos.
Contudo, muitos dos imigrantes que lá chegaram já pertenciam a grupos
guerrilheiros ou gangues que começavam a formar-se em alguns países da América
Central. O caso mais significativo é o da guerra civil de El Salvador
(1980-1992). Entre os anos de 1984 e 1992 aproximadamente um milhão de
salvadorenhos migrou para os Estados Unidos devido à violência generalizada e
uma economia totalmente desestruturada. Alguns desses imigrantes tinham laços
com a gangue de rua La Mara de San Salvador e outros eram ex membros da FMLN (Frente
Farabundo Martí de Libertação Nacional).
O segundo evento que merece ser destacado diz respeito à política de
deportação norte-americana. Segundo relatório da ONU (UNODC) de 2007 há uma
crença amplamente difundida tanto na América Central quanto no Caribe de que os
problemas atuais de criminalidade da região têm ligação direta com a política
de deportação massiva liderada pelos Estados Unidos principalmente durante os
anos 1990.
Em 1988 quando as autoridades estadunidenses detectaram que somente em
Los Angeles havia 452 gangues com mais de 50.000 membros alterou-se o
posicionamento do país em relação à imigração e novas medidas foram adotadas.
Em meados dos anos 1990 o mecanismo adotado pela Immigration and Customs
Enforcement foi uma deportação massiva de indocumentados. A grande questão é
que, dessa massa, 40.000 eram criminosos experientes treinados pela MS-13 ou
pelo Barrio 18 que retornavam principalmente a El Salvador e Honduras e a
partir daí tornariam o fenômeno das maras
uma grande dor de cabeça para os governos de democracias nascentes.
O retorno desses criminosos,
realmente, não foi uma contribuição para estes países que acabavam de baixar armas na tentativa de retomar o rumo da democracia. É necessário compreender que em
meados dos anos 1990 a
América Central estava economicamente desestruturada – embora a estrutura no
século XXI ainda seja precária – e, além disso, os países que acabavam de
cessar fogo em seus conflitos não apresentavam critérios básicos para receber
uma deportação massiva. Sem condições de fornecer segurança pública, sem
instituições jurídicas sólidas, com estruturas precárias e economicamente
fracassados esses países encontram-se até o presente com índices alarmantes de
pobreza.
Segundo relatório da Cepal (Anuário
Estadístico de América Central y el Caribe, 2010) 26.2 % da população
hondurenha vive na extrema pobreza, seguido por Nicarágua (20.8%), El Salvador
(19%) e Guatemala (14.8%). Estes números justificam o ininterrupto fluxo
migratório da America Central para os Estados Unidos até os dias atuais.
Por fim, essa fraqueza institucionalizada foi o cenário ideal para a
consolidação de duas das mais violentas gangues de rua das Américas: Mara
Salvatrucha MS-13 e Barrio 18. Após apresentar alguns fatores sobre a origem
dessas duas gangues, no próximo post falarei quem são e o que fazem as
conhecidas maras.
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