quinta-feira, 12 de março de 2015

A Venezuela desgovernada



Nicolás Maduro foi o homem "predestinado" a tocar em frente à revolução bolivariana desde a morte de Hugo Chávez. Personalista, o atual “comandante” venezuelano vive a discursar inflamadamente contra o “império” estadunidense. Para o governo de Caracas a culpa é sempre de Washington. Porém, o “inimigo” que mais tem incomodado não está no norte, mas sim no urgir das calles venezuelanas.

A oposição ao governo de Nicolas Maduro é intensa e é isso que está refletindo a indisposição diplomática com os EUA. De dentro do país para fora das fronteiras os contrários a Maduro e patota bolivariana exprimem o governo a dar respostas diante da pressão sofrida. No entanto, a resposta encontrada pelo governo de Caracas jamais foi o diálogo interno ou a diplomacia externa. E de fato não poderia ser. Maduro desgoverna mais do que governa a Venezuela, não tem capacidade de diálogo, faz-se líder abaixo de apoio do congresso quase completamente bolivariano (que nos perdoe Bolívar por usar seu nome em vão). É a partir da utopia bolivariana ou do socialismo do século XXI - que já deu errado no século XX – que Caracas rebate todas as críticas ao atual momento do país.

A principal acusação sofrida pelo governo, tanto internamente quanto para além das fronteiras, é em relação à violação aos Direitos Humanos diante da prisão de opositores, mortes de estudantes e o uso de armas de fogo contra manifestantes. A resposta encontrada adivinhem? é a velha acusação contra o “Império”, conforme afirmou em entrevista recente o presidente da Assembléia Nacional da Venezuela Diosdado Cabello: “Os EUA não têm envergadura moral para dizer que na Venezuela os Direitos Humanos são violados”. De fato, há violações de Direitos Humanos na maioria dos países do mundo. Porém, quando se julga o que acontece na Venezuela seus mandatários sempre reverberam contra o "imperialismo" sem ao menos elaborar medidas concretas que possam servir de saída para amenizar a crise. Ou seja, não há articulação governamental e nem inteligência para a elaboração de políticas do tipo, o que me parece haver é uma tropa de homens ideologicamente cegados por uma causa e que não se preocupam com a união/acomodação de todas as classes no país. A Venezuela não está sendo comandada por homens de Estado, mas sim por líderes de partidos. Há tempos!
Chávez, eres tú?

Na atribuição de líderes supremos do povo venezuelano, os comandantes deliram com uma futura invasão estadunidense e já cogitam manobras militares em parte de suas fronteiras, manobras estas que segundo Maduro serão comandadas pessoalmente por ele. Deve ser esse o motivo pelo qual ele solicitou mais poderes a cúpula bolivariana. Quer governar por Decreto em pleno o século XXI. Conforme as convicções de meia dúzia do governo, estes afirmam que “Se tivermos que passar fome, passaremos fome, mas este povo jamais perderá a dignidade, os valores, o amor e a luta para seguir adiante”. Seria uma bela oração para um livro de história do século passado.


Em pleno movimento de forte globalização e de inserção das economias dos países em cadeias globais produtivas o que resta para a Venezuela é: instabilidade política, inflação em alta, escassez de produtos e perda de receitas por conta da queda do preço internacional do petróleo, o governo não consegue dialogar internamente com a oposição em uma queda de braço ideológica e ainda consegue arrumar um destempero diplomático bem indigesto, o “império” do norte. Maus tempos. 

quinta-feira, 5 de março de 2015

R. D CONGO - SAVE VIRUNGA



Na República Democrática do Congo, o Parque Nacional Virunga pode ser metaforicamente descrito como um “gigante pela própria natureza”. São 650 km que fazem fronteira com Ruanda e Uganda. O parque, fundado em 1925, é o mais antigo da África e contempla a área de maior biodiversidade do continente proporcionado por uma natureza exuberante que inclui florestas, savanas, planícies de lava, pântanos, vales de erosão, vulcões ativos, e os picos glaciais dos montes Rwenzori. Desde 1979 Virunga figura entre os patrimônios mundiais na lista da UNESCO. Porém, desde 1994  também está na lista de patrimônios em perigo devido a diversos interesses em seus abundantes recursos naturais.
A partir dessas constatações, no final de 2014 foi lançado o documentário chamado Virunga. A produção do site de streaming Netflix é dirigida por Orlando von Einsiedel. O documentário retrata de maneira emocionante o desafio dos guardas florestais na árdua batalha para preservar este ambiente.

O documentário



O príncipe belga Emmanuel de Mérode comanda, desde 2008, a equipe de guardas florestais do Parque Nacional Virunga. Juntamente com André Bauma um cuidador de Gorilas apaixonado pela profissão e Rodrigue Mugaruka Katembo um guarda florestal - ex criança soldado - que conhece o parque como poucos. Com os demais guardas florestais esses bravos heróis são a estrutura de defesa do local que luta pela manutenção da biodiversidade bem como pela vida dos Gorilas da montanha, uma espécie rara no mundo que tem como principal lar o parque Virunga.
Além disso, o documentário denuncia os projetos de exploração de petróleo da SOCO INTERNATIONAL, uma petrolífera britânica que pretende explorar o óleo dentro da reserva. Para reforçar as denúncias, a colaboração da jornalista francesa Mélanie Gouby contribuiu para fortalecer as denúncias contra a empresa que, a partir de subornos, manteve ligações com políticos da região e também com a guerrilha armada M 23 que invadiu a cidade e enfrentou os guardas do Parque Nacional Virunga. 



Comentário

As explicações da SOCO não são convincentes. A partir da pressão de várias ONGs como WWF e Human Rights Watch em julho de 2014 a petrolífera britânica se comprometeu, em um acordo, a não empreender qualquer missão exploratória ou cometer perfurações dentro do parque. Porém, segundo as denúncias dos próprios cineastas do filme e da população local, esta batalha está longe de acabar. Os Executivos do Fundo Mundial para a Natureza reconhecem que a SOCO ainda não abriu mão das licenças de funcionamento e não cumpriu o acordo de não monitorar mais a área.

Para se sensibilizar com o tema é simples. Basta você assistir algumas fotos e conhecer o tamanho da beleza natural e da biodiversidade apresentadas pelo parque. Virunga é um patrimônio que não deveria ousar ser tocado, mas que infelizmente é muito cobiçada pelas forças do capital mundial. Se não houver luta contra esse tipo de ação a África acabará conforme uma das frases proferidas por um executivo da petrolífera quando estava sendo filmado sem saber durante o documentário, disse ele: “A África deve ser recolonizada, essa é a solução”.

 Esse é o pensamento de muitos executivos de multinacionais que empreendem negócios milionários sem demonstrar qualquer preocupação com patrimônio sagrados da natureza. A SOCO, em particular, parece estar vivendo no século passado. Obcecada pela região e por seus recursos naturais a empresa exibe em sua página na internet o projeto de exploração de petróleo. Deixarei o link da página abaixo para que todos possam acessar e conferir a empreitada. Quanto ao Parque Nacional Virunga, também deixarei o link do site para que todos possam acessar e ver como ajudar a divulgar essa denúncia. Por fim, não percam o documentário, é emocionante

Fontes: 

terça-feira, 3 de março de 2015

Por que Jair Bolsonaro quer presidir a CDHM?


É difícil entender o por quê da obsessão, de deputados totalmente avessos ao tema dos Direitos Humanos,para presidirem a Comissão de Direito Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. O raciocínio que nos leva a tal pergunta é simples: você como dono de uma padaria contrataria um jornalista para fazer a massa dos pães? Claro que não, ele iria errar nas medidas, colocaria farinha para mais, fermento para menos e não chegaria a ao resultado desejado. A pessoa certa seria alguém especializado o que o mercado privado chamaria de mão obra especializada.

Dado esse exemplo fica fácil entender qual seria o papel do Deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) nessa comissão. Primeiramente é preciso entender qual o papel desta comissão, para isso, basta entrar no site da câmara e pronto, está lá “Suas atribuições constitucionais e regimentais são receber, avaliar e investigar denúncias de violações de direitos humanos; discutir e votar propostas legislativas relativas à sua área temática; fiscalizar e acompanhar a execução de programas governamentais do setor; colaborar com entidades não-governamentais; realizar pesquisas e estudos relativos à situação dos direitos humanos no Brasil e no mundo, inclusive para efeito de divulgação pública e fornecimento de subsídios para as demais Comissões da Casa; além de cuidar dos assuntos referentes às minorias étnicas e sociais, especialmente aos índios e às comunidades indígenas, a preservação e proteção das culturas populares e étnicas do País.

Este trecho é parte do texto que está disponível no site da Câmara. Dadas as atribuições, me pergunto – qual o contato que o Deputado Jair Bolsonaro tem com algum desses temas? Absolutamente nenhum. É visível que esta comissão apresenta cunho ideológico definido e que isso é contrário a qualquer posicionamento do Deputado referido. E, em minha opinião, isso não é errado. Seria do mesmo descabimento colocar a Maria do Rosário para presidir a Frente Parlamentar da Segurança Pública por exemplo.

Nesse caso sua candidatura teria um único objetivo: atravancar as atribuições as quais se propõe a comissão, por mais simples que seja a resposta para o título, sua presidência traria um retrocesso grave a tais questões. Para tal presidência é necessário alguém que consiga dialogar com a sociedade civil, que consiga monitor de forma mais rígida a questão dos direitos humanos no Brasil. Que trabalhe para melhor a situação do país diante da Comissão Interamericana de Direito Humanos da OEA.
O oposto seria ridículo. Jair Bolsonaro tem convicções particulares e posicionamentos controversos para tal função. Não é possível que uma comissão ao seu mando trabalhe em prol da pena de morte, da diminuição da maioridade penal e da alteração do estatuto do desarmamento. Seria uma balela fazer textos inconstitucionais que desviariam totalmente o foco desta comissão.


O papel deste Deputado é fazer oposição ao atual governo, pressioná-lo. Está ai sua maior qualidade. Demonstrar uma voz ativa e um posicionamento radical. Por mais que, particularmente, eu seja contrário a boa parte de seus posicionamentos (não todos) é fundamental que haja opositores deste calibre. Agora esperar sensibilidade e flexibilidade de um militar da reserva que foi doutrinado a vida inteira para agir conforme as convicções conservadoras da direta seria ou ignorância por parte dos “representantes do povo” ou uma estratégia de desestruturar a Comissão, está última leva o meu voto. Nesta quarta está previsto para que saia o nome indicado pelos Deputados. É esperar e rezar!