Nicolás Maduro foi o homem "predestinado" a tocar em frente à revolução
bolivariana desde a morte de Hugo Chávez. Personalista, o atual “comandante”
venezuelano vive a discursar inflamadamente contra o “império” estadunidense.
Para o governo de Caracas a culpa é sempre de Washington. Porém, o “inimigo”
que mais tem incomodado não está no norte, mas sim no urgir das calles venezuelanas.
A oposição ao governo de Nicolas Maduro é intensa e é isso que está
refletindo a indisposição diplomática com os EUA. De dentro do país para fora
das fronteiras os contrários a Maduro e patota bolivariana exprimem o governo a
dar respostas diante da pressão sofrida. No entanto, a resposta encontrada pelo
governo de Caracas jamais foi o diálogo interno ou a diplomacia externa. E de
fato não poderia ser. Maduro desgoverna mais do que governa a Venezuela, não
tem capacidade de diálogo, faz-se líder abaixo de apoio do congresso quase
completamente bolivariano (que nos perdoe Bolívar por usar seu nome em vão). É
a partir da utopia bolivariana ou do socialismo do século XXI - que já deu
errado no século XX – que Caracas rebate todas as críticas ao atual momento do
país.
A principal acusação sofrida pelo governo, tanto internamente quanto para
além das fronteiras, é em relação à violação aos Direitos Humanos diante da
prisão de opositores, mortes de estudantes e o uso de armas de fogo contra
manifestantes. A resposta encontrada adivinhem? é a velha acusação contra o “Império”,
conforme afirmou em entrevista recente o presidente da Assembléia Nacional da
Venezuela Diosdado Cabello: “Os EUA não têm envergadura moral para dizer que na
Venezuela os Direitos Humanos são violados”. De fato, há violações de Direitos
Humanos na maioria dos países do mundo. Porém, quando se julga o que acontece
na Venezuela seus mandatários sempre reverberam contra o "imperialismo" sem ao
menos elaborar medidas concretas que possam servir de saída para amenizar a
crise. Ou seja, não há articulação governamental e nem inteligência para a
elaboração de políticas do tipo, o que me parece haver é uma tropa de homens
ideologicamente cegados por uma causa e que não se preocupam com a
união/acomodação de todas as classes no país. A Venezuela não está sendo
comandada por homens de Estado, mas sim por líderes de partidos. Há tempos!
Chávez, eres tú? |
Na atribuição de líderes supremos do povo venezuelano, os comandantes
deliram com uma futura invasão estadunidense e já cogitam manobras militares em
parte de suas fronteiras, manobras estas que segundo Maduro serão comandadas
pessoalmente por ele. Deve ser esse o motivo pelo qual ele solicitou mais poderes
a cúpula bolivariana. Quer governar por Decreto em pleno o século XXI. Conforme
as convicções de meia dúzia do governo, estes afirmam que “Se tivermos que
passar fome, passaremos fome, mas este povo jamais perderá a dignidade, os valores,
o amor e a luta para seguir adiante”. Seria uma bela oração para um livro de
história do século passado.
Em pleno movimento de forte globalização e de inserção das economias dos
países em cadeias globais produtivas o que resta para a Venezuela é: instabilidade
política, inflação em alta, escassez de produtos e perda de receitas por conta
da queda do preço internacional do petróleo, o governo não consegue dialogar
internamente com a oposição em uma queda de braço ideológica e ainda consegue
arrumar um destempero diplomático bem indigesto, o “império” do norte. Maus
tempos.